segunda-feira, novembro 12, 2007

Van den Budenmayer (Preisner)



Que pena que não se possa voltar a ouvir uma música pela primeira vez...

O voi che siete in piccioletta barca,
desiderosi d'ascoltar, seguiti
dietro al mio legno che cantando varca,

tornate a riveder li vostri liti:
non vi mettete in pelago, ché forse,
perdendo me, rimarreste smarriti.

L'acqua ch'io prendo già mai non si corse;
Minerva spira, e conducemi Appollo,
e nove Muse mi dimostran l'Orse.


(Ó vós que estais numa barca tão pequena,
desejosos de escutar, seguindo
atrás da minha pequena barca que avança a cantar,

regressai às vossas costas:
evitai o perigo, pois seguramente,
se me perdêsseis ficaríeis à deriva.

A água que atravesso nunca foi cruzada
Minerva sopra e conduz-me Apolo
e nove Musas indicam-me a Ursa.)

inDante, Paradiso

quarta-feira, outubro 03, 2007

breathing like a drowning man


quando no azul mergulhei nem me apercebi de que tudo tinha ficado para trás...

no azul perguntaste-me o nome e não soube falar nem o que era um nome
e já não havia no azul quem se apercebesse destas coisas todas

abri os olhos e não soube dizer onde estavas no azul
porque já tudo era azul

criaturas assombrosas deslizavam, azuis, com olhos brilhantes e feitos de névoa

um lento arrepio subia-me pela espinha acima
um frio confortável ia-me envolvendo, abraço de azul profundo

deixei-me levar como se dançasse

azul


No fundo do mar não há barulho.

Só o som distante da canção das baleias se consegue distinguir do silêncio.

Nadar é flutuar é voar.

A água é um líquido mais leve do que o ar.

Espero que se formem as guelras. Já não deve demorar muito tempo.

Aqui não se ouvem os gritos, não há confusão.

Aqui tudo é sempre azul. Como eu.

quinta-feira, agosto 30, 2007

Hecatonquiros ou Arcanjos


Na mitologia grega fala-se do terrível deus Urano (Céu) que não deixava os filhos que gerava saírem de dentro da barriga da sua mãe, Gaia (terra). Este deus foi castigado pelos seus filhos liderados pelo fortíssimo Chronos (Tempo), que o castrou com um golpe só, quando ele se baixou para copular com a Gaia. Do sangue que caiu, Gaia fez nascer as terríveis Erínias (Vermelhas), deusas do remorso. Os genitais do deus caíram ao mar e da espuma que deles jorrou (sémen) nasceu Vénus (Amor).

No entanto, Cronos não se preocupou em libertar os seus irmãos Hecatonquiros (Cem-Braços), mas apenas os Titãs. Temendo que a sua descendência o destronasse, Cronos comia os seus filhos mal eles nasciam. Reia resolveu castigar Cronos e salvou um dos seus filhos dando um pedra a comer ao deus. Este filho, Zeus (Luz), organizou uma revolta e uma luta incrível. Para vencer a batalha contra os Titãs (Titanomaquia) libertou os Hecatonquiros que aprisionaram os Titãs enquanto os deuses olímpicos, partidários de Zeus, os atacavam.

O castigo que mereceram os Titãs vencidos foi serem aprisionados num buraco sem luz, onde tinham estado os Hecatonquiros, agora convertidos em guardas dessa prisão.
(Hesíodo, Teogonia)

Lúcifer (feito de Luz ou estrela da manhã) e os seus partidários desceram à terra e andavam a misturar-se com os homens, copulando, comendo e bebendo como eles. O arcanjo São Miguel reuniu um tremendo exército e foi ao seu encontro para lhes mostrar a cólera de deus pela sua desobediência. A batalha terminou com os anjos desviados a cairem do céu. Então, São Miguel perseguiu-os e prendeu-os num buraco sem luz de onde nunca mais sairão.
(Evangelho de Enoch)

A ideia é sempre a mesma, o afastamento da luz é o castigo supremo. E os arcanjos são monstros ferocíssimos que aplicam a justiça divina, por amor à Luz.

quinta-feira, abril 19, 2007

MPPS: O Sono e a Morte


O sono (Hypnos) e a morte (Tanatos) enquadram o sonho. O sono só se consegue manter com a ajuda do sonho (Morfeu), daí os cuidados com que Morfeu tratava o seu pai, Hypnos. A morte, irmã do sono, lembra-nos de que a própria vida, sem a ajuda do sonho, não se consegue manter.

MPPS: primeira grande verdade

A dispersão gera-se com a aceitação de inúmeros possíveis em prol de um futuro e eventual verdadeiro. Quer isto dizer que, aceitando aquilo que não contribui directamente para o sonho, se está implicitamente a abdicar do sonho.Não é possível estar em dois lados ao mesmo tempo.
Escolher algo que talvez venha a ser interessante é ocupar a atenção que poderia estar disponível para encontrar aquilo que é desde sempre verdadeiro.Se, por falta de se encontrar o sonho, se for escolhendo outras coisas que não têm a mesma verdade, o tempo fará o resto e a pessoa ver-se-á envolvida em tantas coisas que não permitem o seu sonho que acabará por ter de abdicar dele.Esta é a primeira grande verdade sobre a possibilidade.

História do Movimento pela Possibilidade do Sonho (MPPS)

O Movimento pela Possibilidade do Sonho surgiu em Cracóvia, em 1954, fundado por um grupo de influências diversas entre as quais se impunham Heidegger e Malinovski. Consequentemente, desde o início que é um movimento pela aceitação do outro e pela existência genuína. A atmosfera gerada pela conjuntura do pós-guerra e pelo regime comunista da Polónia enquadrava a aspiração por um mundo melhor.
A negação como atitude é característica do Movimento pela Possibilidade do Sonho. Esta atitude traduz-se no apelo a todos para que militem em prol da possibilidade do sonho, negando e recusando tudo o que não for a favor dos sonhos, por ser implicitamente contra eles. A negação como atitude é a expressão concreta deste ideal.
A possibilidade do sonho é vista como a pedra angular para a construção de um mundo onde as pessoas sejam mais felizes e, acalmadas as suas angústias, menos destrutivas e agressivas. Juntamente com o relaxamento mental por meio da meditação, reflexão ou introspecção, é vista como o caminho para a paz no mundo.
A nível individual, permite construir pessoas sólidas e que se sentem bem consigo próprias, porque nunca abdicaram dos seus sonhos. É preciso sublinhar aqui que o movimento se destina a gente de todos os níveis sócio-económicos, porque se foca nas escolhas que as pessoas fazem e não nas que são feitas por elas. Assim sendo, alguém que apenas dispõe do tempo entre o jantar e o sono e apenas então pode escolher seja o que for, é nesse momento que deve exercer a negação e a recusa de tudo o que for contra as suas aspirações.
É preciso recusar os lenitivos, tudo o que se destina a adormecer a mente e fazer esquecer as preocupações, quando eles eliminam a possibilidade de escolher.

terça-feira, março 27, 2007