quinta-feira, julho 31, 2014

A Morte (sobre “Amor…” de Luís de Camões)



A Morte é água que afoga sem se ver
É um estado que dói mas não se sente
É um aviltamento consciente
É uma coisa que acontece sem querer.

É um nunca fazer mais que não fazer
É nefário apagar-se, assim, da mente
É jamais recordar ou ter presente
É deixar de ainda ter tempo para escolher.

É um querer que perde a validade
É acabar-se o ser, já não ter sorte
É nem sequer de amor ter mais vontade.

Mas como pode ser horror tão forte
Para os que nela pensam com a idade
Se tão vazia é a mesma morte?

Lilith, I-1



       sim,  voltei ao mundo de
mulheres que se transformam em flores,
a  baba a escorrer pelo queixo, como
se se sublimassem
      reencontro as linguagens inexistentes
dos países imaginários e deliro no meu
desejo emprestado de querer viver neles
      alimento-me da sua loucura que
a minha,  infinitamente mais torpe, é
estéril.  e sou parasita,  colo-me nas
suas costas para viver na sua loucura,
que a minha,  a mim,  não basta.
         sou adão a nadar ao fundo dos oceanos
em busca da sua lilith, arrependido
         e danço nas noites tempestuosas da
sua ausência,   a dança estática da
nostalgia
       e Lilith,  recém-desperta,  é o terrível
monstro inocente, erguendo-se entorpecido,
a despertar de um sono forçado
     espuma lindíssima,  sedenta de vingança

o meu corpo liso, de Cassandra Tile



o meu corpo liso
é-me estranho

olhar para baixo
 ver
seios pequenos e arrebitados
causa desejo
aos neurónios da solidão

o meu desejo por mim
é o meu desejo pelas mulheres
que compreende todos
 os tabús e fantasias possíveis

nas minhas
quero só mulheres
e especialmente quero-te a ti
que vomito com gotas de perfume
que és a mulher do outro lado

            do espelho

que não consigo deixar de fixar
         
                                                    Cassandra Tile