Era fervum , e os vispidosos rombos
Giravam no vaiá onde verrumavam ;
Todos miseranes estavam os picombos
E os gedolares rates granchiavam .
“Teme o engrimancífero, meu filho!
Tem dentes que mordem e agarram-te as garras!
Teme o pássaro chouchou e elude as arras
Do exalfuriado Chofracaudilho ”.
Ele pegou bem na sua espada virrão :
Debalde procurou o virdócil vilão --
E então descansou junto à árvore Guigui ,
E deixou-se ficar a pensar por ali.
E enquanto em pensamento esrucido estava,
O Engrimancífero, com olhos de chama
Bufando pelo bosque optundo atacava
E burbucinava a avançar pela rama!
Um, dois! Um dois! e ora toma, toma lá
O gume virrão fez chacultriá-quinhá !
Deixou-o morto, e com sua testante
Erguida na mão, regressou galunfiante .
“E tu mataste o Engrimancífero mau?
Vem a meus braços meu rapaz luminoso!
Ó fabeledo dia! Digoh! Diguau!”
Rinfungou ele alegre e vitorioso.
Era fervum, e os vispidosos rombos
Giravam no vaiá onde verrumavam;
Todos miseranes estavam os picombos
E os gedolares rates granchiavam.
Lewis Carroll (tradução de Jabberwocky por anoeee)
anoeee
Pensamentos e imagens
terça-feira, setembro 16, 2014
quarta-feira, agosto 20, 2014
Querendo fugir (sobre "Ai Flores..." de D. Dinis)
Querendo fugir, querendo gritar
Procuras maneira de aguentar...
Será que ainda dá?
Querendo sair, talvez abalar
Julgas ter o meio de isto mudar
Será que ainda dá?
Procuras maneira de aguentar
Procuras ter como tudo reatar
Será que ainda dá?
Julgas ter o meio de isto mudar
Mas falta-te força para o aplicar
Será que ainda dá?
Procuras ter como tudo reatar
Procuras, procuras sem o encontrar
Será que ainda dá?
Mas falta-te força para o aplicar
Mas falta-te o tempo e falta-te o ar
Será que ainda dá?
Procuras maneira de aguentar...
Será que ainda dá?
Querendo sair, talvez abalar
Julgas ter o meio de isto mudar
Será que ainda dá?
Procuras maneira de aguentar
Procuras ter como tudo reatar
Será que ainda dá?
Julgas ter o meio de isto mudar
Mas falta-te força para o aplicar
Será que ainda dá?
Procuras ter como tudo reatar
Procuras, procuras sem o encontrar
Será que ainda dá?
Mas falta-te força para o aplicar
Mas falta-te o tempo e falta-te o ar
Será que ainda dá?
terça-feira, agosto 19, 2014
Alcatrão, de C.K.Williams
A madrugada na Ilha das Três Milhas: aquelas primeiras horas inquietantes, incertas,
obscuras.
Toda a manhã uma equipa de trabalhadores tem estado a desfazer o telhado velho e decrépito
do nosso prédio,
e toda a manhã, para ver se me distraía, tenho estado a ir lá fora
para os observar
à medida que vão arrancando as camadas rígidas de papel de amianto e desmontando
as calhas desfeitas.
Após ter passado metade da noite a ouvir as notícias, interrogando-me como saber
a cem milhas a sotavento
se e quando desatar a fugir e para onde, um acordar em sobressalto
às sete
quando os telhadeiros de que temos estado à espera desde o Inverno esticaram os seus escadotes
a guinchar ao longo da nossa parede,
ainda sabemos menos que nada: a companhia de serviços locais continua a fazer
pouco do acidente
os manhosos representantes federais ainda mantêm as suas evasivas numa espécie
de ordem aparente.
Claro que suspeitamos de que nos estão a mentir, mas entretanto, aqui
estão os telhadeiros,
a colocar as estruturas para o guindaste, a partir secções de alcatrão à martelada, e aqui estou eu, no
passeio do outro lado da rua, a olhar pasmado.
Nunca me tinha apercebido de como este é um trabalho tão brutal, tão corriqueiramente e
pungentemente perigoso.
Os escadotes vergam e estremecem, há coisas que escorregam do beiral caindo para o chão, os materiais
são bojudos e recalcitrantes.
Quando os pregos antigos e ferrugentos são puxados, as suas cabeças soltam-se; a
base do telhado esboroa-se.
Até a pequena fornalha amolgada, a rugir com a paciência de um burro,
se engasga e entope,
um fumo denso, maligno ergue-se, e alguém tem de mexer numa
válvula, e acaba a martelá-la,
antes que o jorro e o fedor comecem a ficar menos intensos, o escuro e dantesco caldo
ceda exausto.
Ali na caldeira, a mistura parece branda, como alcaçuz, se, porém, se despejar
nas botas ou no macacão,
vai chamuscar, e permear tudo, a fornalha cheia da gosma de bolhas
rebentadas ou meio-rebentadas,
mesmo os homens estão tão completamente cheios de pântano e de muco que quase parecem
vir de outro mundo, como ogres.
Quando fazem a sua pausa, deixam as vassouras de pé em sentido
nos baldes de alcatrão,
com as luvas de trabalho presas aos paus corroídos a fazer de Coelho Br'er, e a descair
ao longo da boca precipitada,
com o céu imenso por trás, o ar pesado do meio-dia vivo com reflexos
e miragens.
A certa altura da tarde eu tive de ir para dentro: o advento da nossa vigília
tinha chegado.
Por mais que não o quiséssemos, por menos que fizéssemos por isso,
tínhamos compreendido:
haveríamos de perecer por tudo isto, se não agora, dentro em breve, se não em breve,
então um dia.
Um dia, alguma geração derradeira, a enxamear histericamente sob uma atmosfera
tão inexorável como a rocha,
haveria de nos lamentar, fazer dos nossos confortos terrenos anátema, amaldiçoar os nossos
excedentes e a nossa submissão.
Eu acho que sei, embora talvez preferisse não o saber, porque é que me lembro tão bem dos meus telhadeiros
e porque é que o resto,
o terror daquela altura, a descrença reflexiva e o distanciamento, tudo aquilo a que nos devíamos
agarrar, ficou tão apagado.
Lembro-me do presidente com as suas absurdas capas de plástico nos sapatos, completamente
sem medo, o tolo.
Lembro-me de uma mulher na primeira página a olhar fixamente através do Susquehanna
cheio de nevoeiro para aquelas pilhas de fumo subitamente agigantadas.
Mas, de forma mais vívida, dos homens, prateados, reluzindo com a poeira das telhas, agarrados como
estorninhos por baixo dos beirais.
Até dos restos do alcatrão na sarjeta, tão negros que pareciam sugar
a luz do ar.
Quando chegou a noite os miúdos já os tinham descoberto: todos os passeios do quarteirão estavam
escrevinhados, cheios de obscenidades e de corações.
C. K. Williams (tradução de Tar por anoeee)
obscuras.
Toda a manhã uma equipa de trabalhadores tem estado a desfazer o telhado velho e decrépito
do nosso prédio,
e toda a manhã, para ver se me distraía, tenho estado a ir lá fora
para os observar
à medida que vão arrancando as camadas rígidas de papel de amianto e desmontando
as calhas desfeitas.
Após ter passado metade da noite a ouvir as notícias, interrogando-me como saber
a cem milhas a sotavento
se e quando desatar a fugir e para onde, um acordar em sobressalto
às sete
quando os telhadeiros de que temos estado à espera desde o Inverno esticaram os seus escadotes
a guinchar ao longo da nossa parede,
ainda sabemos menos que nada: a companhia de serviços locais continua a fazer
pouco do acidente
os manhosos representantes federais ainda mantêm as suas evasivas numa espécie
de ordem aparente.
Claro que suspeitamos de que nos estão a mentir, mas entretanto, aqui
estão os telhadeiros,
a colocar as estruturas para o guindaste, a partir secções de alcatrão à martelada, e aqui estou eu, no
passeio do outro lado da rua, a olhar pasmado.
Nunca me tinha apercebido de como este é um trabalho tão brutal, tão corriqueiramente e
pungentemente perigoso.
Os escadotes vergam e estremecem, há coisas que escorregam do beiral caindo para o chão, os materiais
são bojudos e recalcitrantes.
Quando os pregos antigos e ferrugentos são puxados, as suas cabeças soltam-se; a
base do telhado esboroa-se.
Até a pequena fornalha amolgada, a rugir com a paciência de um burro,
se engasga e entope,
um fumo denso, maligno ergue-se, e alguém tem de mexer numa
válvula, e acaba a martelá-la,
antes que o jorro e o fedor comecem a ficar menos intensos, o escuro e dantesco caldo
ceda exausto.
Ali na caldeira, a mistura parece branda, como alcaçuz, se, porém, se despejar
nas botas ou no macacão,
vai chamuscar, e permear tudo, a fornalha cheia da gosma de bolhas
rebentadas ou meio-rebentadas,
mesmo os homens estão tão completamente cheios de pântano e de muco que quase parecem
vir de outro mundo, como ogres.
Quando fazem a sua pausa, deixam as vassouras de pé em sentido
nos baldes de alcatrão,
com as luvas de trabalho presas aos paus corroídos a fazer de Coelho Br'er, e a descair
ao longo da boca precipitada,
com o céu imenso por trás, o ar pesado do meio-dia vivo com reflexos
e miragens.
A certa altura da tarde eu tive de ir para dentro: o advento da nossa vigília
tinha chegado.
Por mais que não o quiséssemos, por menos que fizéssemos por isso,
tínhamos compreendido:
haveríamos de perecer por tudo isto, se não agora, dentro em breve, se não em breve,
então um dia.
Um dia, alguma geração derradeira, a enxamear histericamente sob uma atmosfera
tão inexorável como a rocha,
haveria de nos lamentar, fazer dos nossos confortos terrenos anátema, amaldiçoar os nossos
excedentes e a nossa submissão.
Eu acho que sei, embora talvez preferisse não o saber, porque é que me lembro tão bem dos meus telhadeiros
e porque é que o resto,
o terror daquela altura, a descrença reflexiva e o distanciamento, tudo aquilo a que nos devíamos
agarrar, ficou tão apagado.
Lembro-me do presidente com as suas absurdas capas de plástico nos sapatos, completamente
sem medo, o tolo.
Lembro-me de uma mulher na primeira página a olhar fixamente através do Susquehanna
cheio de nevoeiro para aquelas pilhas de fumo subitamente agigantadas.
Mas, de forma mais vívida, dos homens, prateados, reluzindo com a poeira das telhas, agarrados como
estorninhos por baixo dos beirais.
Até dos restos do alcatrão na sarjeta, tão negros que pareciam sugar
a luz do ar.
Quando chegou a noite os miúdos já os tinham descoberto: todos os passeios do quarteirão estavam
escrevinhados, cheios de obscenidades e de corações.
C. K. Williams (tradução de Tar por anoeee)
quinta-feira, julho 31, 2014
A Morte (sobre “Amor…” de Luís de Camões)
A
Morte é água que afoga sem se ver
É
um estado que dói mas não se sente
É
um aviltamento consciente
É
uma coisa que acontece sem querer.
É
um nunca fazer mais que não fazer
É
nefário apagar-se, assim, da mente
É
jamais recordar ou ter presente
É
deixar de ainda ter tempo para escolher.
É
um querer que perde a validade
É
acabar-se o ser, já não ter sorte
É
nem sequer de amor ter mais vontade.
Mas
como pode ser horror tão forte
Para
os que nela pensam com a idade
Se
tão vazia é a mesma morte?
Lilith, I-1
sim, voltei ao mundo de
mulheres que se transformam em
flores,
a
baba a escorrer pelo queixo, como
se se sublimassem
reencontro as linguagens inexistentes
dos países imaginários e deliro no meu
desejo emprestado de querer viver neles
alimento-me da sua loucura que
a minha,
infinitamente mais torpe, é
estéril.
e sou parasita, colo-me nas
suas costas para viver na sua loucura,
que a minha, a mim,
não basta.
sou adão a nadar ao fundo dos oceanos
em busca da sua lilith, arrependido
e danço nas noites tempestuosas da
sua ausência, a dança estática da
nostalgia
e Lilith, recém-desperta, é o terrível
monstro inocente, erguendo-se
entorpecido,
a despertar de um sono forçado
espuma lindíssima, sedenta de
vingança
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