Se, como dizia o sábio, voluntas reputatur pro facto, "a intenção tem valor de acção", isto implica que é necessário demonstrar a existência da intenção para que ela possa assumir esse valor. O problema reside precisamente nessa demonstração.
Se ex nihilo nil fit, "do nada nada surge", como poderemos demonstrar algo que nada é no universo físico? Apenas construindo uma cadeia lógica que permita entrever, em diversas acções visíveis e observadas, a acção que se preparava, id est voluntas, "demonstrando a intenção".
A construção de uma cadeia lógica de acções de um indivíduo, para extrapolar as suas intenções ou para demonstrar acções passadas desconhecidas, é sempre um exercício delicado. Para já, parte do princípio de que a realidade é racional e demonstrável quando, na realidade, até a coesão dos átomos tem uma probabilidade de ser interrompida (o que implicaria que os objectos físicos se atravessariam uns aos outros), o tempo é relativo, a nossa consciência de nós próprios é descontínua, a nossa percepção é uma sinergia de vários desequilíbrios que permitem manter uma relativa estabilidade e não fazemos a mínima ideia se não seremos apenas um sonho que alguém está a sonhar. O irracional domina.
O racional é uma lenta construção que vamos avançando, uma ponte sobre o real, que nos permite atravessá-lo com alguma relativa certeza, mas não é uma certeza.
Em suma, se a intenção é que conta, é preciso que seja bem clara!