O medo de ver assim, tão de perto, um leão a rugir, deu lugar à observação de que o leão não me estava a ameaçar. Na realidade, tinha um espinho cravado numa das patas da frente, que lambia com um ar furioso e sofrido.
Conhecendo o cliché, pensei de imediato nas vantagens que haveria em retirar esse espinho e ficar com um amigo leão. No entanto, não fazia a menor tenção de me aproximar daquela fera!
Resignado, o leão soltou um lamento rugido que me comoveu. Pobre criatura! Tão poderoso que era e não conseguia livrar-se de um espinho oportunista.
Cheio de compaixão, aproximei-me muito devagar. O leão pareceu perceber a minha intenção e nem se mexeu, nem sequer olhou para mim. Visto de perto, o espinho estava cravado entre duas garras do leão. Num gesto rápido e decisivo, arranquei-o com força. O leão soltou um rugido que fez estremecer o chão e me deixou quase surdo.
Caí para trás e pensei: que fui fazer? O leão aproximou-se lentamente de mim, com um ar desinteressado. Levantou a outra pata e empurrou-me um pouco. Quando o vi a abrir a bocarra pensei: não o posso levar a mal, afinal de contas é esta a sua natureza...
Ao perder a consciência vi nos olhos da fera o olhar sincero do instinto animal.