Fazia-lhe impressão o crucifixo pequeno e de madeira ao pescoço. Quando o tirou sentiu-se a respirar. Sentiu também uma vertigem. Estava cansada. Deitou-se só com uma camisa velha dele. A noite quente parecia tornar o ar espesso e difícil de inspirar. Adormeceu a olhar para uma sombra que parecia estar prestes a mexer-se no tecto do quarto.
Deixou-se levar, dançando nos fluidos do sonho, cada vez mais longe.
A sombra deslizou pelas paredes e reuniu-se junto à sua cabeceira, como algo terrível. Os lençóis tapavam o seu corpo de mulher apenas até à cintura. A camisa aberta deixava entrever um seio e o pescoço nu brilhava com a luz pálida do luar, que entrava agora pela janela aberta. Parecia murmurar qualquer coisa baixinho.
A sombra ergueu-se e deu lugar à figura de um homem banhado de luz prateada. O seu
rosto estava muito sério, quase petrificado. Os lábios estavam entreabertos num esgar repugnante. Quando se debruçou sobre ela viu-se-lhe a boca de dentes longos e afiados, como a de um animal feroz. Aproximou-se dela e sentiu o cheiro perfumado do seu cabelo.
Então passou a mão de unhas compridas pela pele fina do pescoço. Em seguida, deixou pousar ali os dentes. Procurou a veia, mas não a mordeu. Deixou-se ficar ali, a acariciá-la com os caninos ferozes, a sentir o sangue a pulsar. A demorar o momento.
No meio do sono, ela mexeu-se levemente e murmurou: - Meu amor! Meu amor!
Deixou-se levar, dançando nos fluidos do sonho, cada vez mais longe.
A sombra deslizou pelas paredes e reuniu-se junto à sua cabeceira, como algo terrível. Os lençóis tapavam o seu corpo de mulher apenas até à cintura. A camisa aberta deixava entrever um seio e o pescoço nu brilhava com a luz pálida do luar, que entrava agora pela janela aberta. Parecia murmurar qualquer coisa baixinho.
A sombra ergueu-se e deu lugar à figura de um homem banhado de luz prateada. O seu
rosto estava muito sério, quase petrificado. Os lábios estavam entreabertos num esgar repugnante. Quando se debruçou sobre ela viu-se-lhe a boca de dentes longos e afiados, como a de um animal feroz. Aproximou-se dela e sentiu o cheiro perfumado do seu cabelo.
Então passou a mão de unhas compridas pela pele fina do pescoço. Em seguida, deixou pousar ali os dentes. Procurou a veia, mas não a mordeu. Deixou-se ficar ali, a acariciá-la com os caninos ferozes, a sentir o sangue a pulsar. A demorar o momento.
No meio do sono, ela mexeu-se levemente e murmurou: - Meu amor! Meu amor!
1 comentário:
Tive um arrepio quando li o primeiro parágrafo. Acabei de ler "A Linguagem dos Pássaros", da Ana Teresa Pereira. No livro, é ele que tem um crucifixo.
"Animal feroz" com "cheiro perfumado". O instinto doce e adormecido.
Confesso que leio, releio, volto a ler e encontro pormenores que me fascinam. A "vertigem" breve que sentiu com a "sombra" no tecto.
Vou voltar a ler.
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