quarta-feira, dezembro 14, 2005

Charlotte Sometimes


Um quarto mágico que sabe romper as areias do tempo. Uma árvore cujas raízes mexem nos fios do cosmos e activam os corredores insuspeitados que separam as épocas. Duas meninas em épocas diferentes que dormem na mesma cama, nesse quarto.

E as águas empurram as areias do tempo. E as areias do tempo deslocam as meninas. E as meninas acordam cada uma na época da outra. E ninguém repara que são outras, que não são quem eram. Mas elas sabem... E à noite, quando vão dormir, voltam a acordar na sua época.

E o mesmo repete-se várias vezes. Até que começam a deixar mensagens uma à outra nos seus diários, ensinando-se a viver, cada uma, a vida da outra. Tornando-se amigas. Partilhando os seus pensamentos mais íntimos.

E um dia pára. E a menina do tempo presente vai procurar saber o que foi feito da menina do tempo passado. E descobre que morreu logo depois das últimas viagens temporais. Descobre que teve muita febre e morreu. A amiga que nunca conheceu. A sua amiga. E chora, chora muito, por alguém que morreu muito antes de ela ter nascido.

She was crying and crying for a girl who died so many years ago,
Charlotte Sometimes, so far away glass-sealed and pretty.

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