O arame farpado está sempre com os dentes afiados. Sempre à espera como um enorme cão-de-guarda, Cérbero ao serviço da ignorância e do ódio. Sempre o ódio, como uma enorme nuvem negra, pairando sobre as cabeças das pessoas todas do mundo, prometendo uma tempestade como nunca se viu. Nunca ninguém viu o ódio, ele só aparece quando já estamos todos cegos.
Só se vê o desalento. O desalento que atira uns trapos esquálidos para cima dos dentes afiados, tentando minimizar a dor, tentando evitar o rasgar-se da carne... Quando passamos sobre o arame farpado nunca conseguimos sair incólumes. Nunca a nossa carne permanece pura e intocada. É a perda da inocência. Como se ela ficasse ali, devorada por Cérbero, à porta do Inferno, enquanto fugimos em debandada do ódio que se aproxima. Enquanto fugimos da dor, da dissolução da consciência, do horror das mandíbulas de Saturno.
Salto para o chão e caio na lama. O muro era alto. Ouço os cães a ladrar, aproximam-se. Há estampidos no ar, tiros de armas que não conhecem o amor, dor e gritos dos meus irmãos que ficaram presos nas bocas de Cérbero, com sangue a escorrer da alma... Há uma escuridão absoluta no mundo, um fim do tempo, uma iminência de absoluto.
Eles vêm aí. Corro sem olhar para trás, sem ouvir os gritos, sem hesitar, sem os ouvir, que me perseguem, que me querem destroçar. E ao fugir sei que abandono tudo de vez, que me abandono ali, prisioneiro para todo o sempre, e apenas procuro a salvação da minha existência miserável.
O riso infernal abana tudo, até mesmo o chão, e é um riso escuro e malévolo, muito longe do contentamento, cheio de desprezo. É um riso que me faz tremer até aonde o meu ser dorme em mim...
O rio aproxima-se. Mais arame farpado. Estou perdido no Inferno.
Só se vê o desalento. O desalento que atira uns trapos esquálidos para cima dos dentes afiados, tentando minimizar a dor, tentando evitar o rasgar-se da carne... Quando passamos sobre o arame farpado nunca conseguimos sair incólumes. Nunca a nossa carne permanece pura e intocada. É a perda da inocência. Como se ela ficasse ali, devorada por Cérbero, à porta do Inferno, enquanto fugimos em debandada do ódio que se aproxima. Enquanto fugimos da dor, da dissolução da consciência, do horror das mandíbulas de Saturno.
Salto para o chão e caio na lama. O muro era alto. Ouço os cães a ladrar, aproximam-se. Há estampidos no ar, tiros de armas que não conhecem o amor, dor e gritos dos meus irmãos que ficaram presos nas bocas de Cérbero, com sangue a escorrer da alma... Há uma escuridão absoluta no mundo, um fim do tempo, uma iminência de absoluto.
Eles vêm aí. Corro sem olhar para trás, sem ouvir os gritos, sem hesitar, sem os ouvir, que me perseguem, que me querem destroçar. E ao fugir sei que abandono tudo de vez, que me abandono ali, prisioneiro para todo o sempre, e apenas procuro a salvação da minha existência miserável.
O riso infernal abana tudo, até mesmo o chão, e é um riso escuro e malévolo, muito longe do contentamento, cheio de desprezo. É um riso que me faz tremer até aonde o meu ser dorme em mim...
O rio aproxima-se. Mais arame farpado. Estou perdido no Inferno.
1 comentário:
Gostei muito deste texto.
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