quinta-feira, setembro 08, 2005

Morte e Vida



Há três máximas do humanismo que me tocam particularmente: memento mori («lembra-te de morrer»), aurea mediocritas («satisfaz-te com pouco»), carpe diem («aproveita o dia»).
Lembra-te de morrer. Soa estranho, não é? A ideia é não deixar constantemente coisas por resolver, pois «não sabemos a hora nem o lugar» em que vamos acabar.
Aproveita o dia. O momento que vives é irrepetível. Nunca haverá outro. Só nele é que tens a oportunidade de viver. Aproveita-o.
Satisfaz-te com pouco. Se tiveres expectativas demasiado altas nunca vais conseguir aproveitar o momento e a vida há-de-te passar ao lado. Sempre à espera daquele carro, daquela casa, da outra vida que hás-de ter, porque esta ainda não é a tua vida, a tua vida não vai ser nada assim... Sempre à espera da morte. Andar a correr é a melhor maneira de chegar depressa ao fim. E isto não é uma corrida, é um passeio. Um passeio pela vida.
Estas três ideias têm um coisa em comum: todas têm a morte como pano de fundo. A morte é o melhor contraponto: a melhor maneira de entender a vida é olhando para a morte. Se não deixamo-nos simplesmente ir. Sem a morte não há projecto.
O Heidegger dizia que só aceitando a ideia da morte é que poderemos começar a ver as coisas enquanto possibilidade real e começar a assumir a responsabilidade pela nossa passagem pelo mundo. A partir do momento em que aceitas a ideia de que não duras para sempre já não te deixas ir atrás dos outros como antes. Já escolhes o teu caminho.
Tudo o resto é ir atrás da maioria, fazer o que se faz e não o que tu queres fazer, se te demorares a pensar nisso.
A morte em si não é nada. Há um poema em sânscrito, um sutra chamado do Coração, que termina dizendo Gate, gate, paragate, parasamgate, buddhi swaha., «Foi, foi, foi completamente, foi total e completamente para a Luz. Amén.» Para mim a morte é isso: uma partida luminosa, mesmo que o seja apenas para deixar os outros cheios de esperança, para lhes dar um reconforto cósmico.

5 comentários:

rafael disse...

dalai lama was here

Anónimo disse...

so was jesus

rafael disse...

vim cá ler isto outra vez. adorei da outra vez mas tava cjheio de sono.

quem é que ganha no fim ?

anoeee disse...

Tu ganhas só que no processo deixas de ser tu. Isto significa que ninguém (que é aquilo em que te tornas) ganha!

Anónimo disse...

bem pensado, anoeee! concordo plenamente!
às vezes falas como uma alma "velha" cheia de sabedoria :)