O chão sob os pés. Como era aquela canção? Havia uma espessura aromática no ar, não havia? E depois tu dizias para nos irmos deitar lá fora, na relva. O chão era madeira sob os pés, madeira que estremecia quando nos perdíamos em brincadeiras daquela época. Nunca fomos só isto. A luz entrava esparsa mas brilhante por entre as tábuas das portadas sempre fechadas. Foi num dia de trovoada que o Rui as tentou abrir para podermos ver os relâmpagos que rasgavam o céu. Ficámos de boca aberta. Depois disso nunca mais as conseguimos abrir. Nunca fomos sequer estes momentos, estes pedaços maravilhosos de encontros. Gente feita de pequenos encontros perdidos no tempo. O chão estremecia quando descias do sótão a correr. Os cabelos voavam atrás de ti. O teu riso que me chamava e me fazia correr também. Ríamos e deslizávamos pelo corrimão. Lá em baixo fazia sol. A terra que se metia por entre os dedos dos pés. O cheiro a primavera. E as nuvens a passar, como se o tempo estivesse parado.
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