Ó Diónisos
Eu te invoco, ó Diónisos que rebentas sonoramente, que gritas ovações:
O primogénito, segundo e terceiro filho, Rei Baco!
Tu, o selvagem, indescritível, clandestino,
De dois cornos, duplamente formado, coberto de hera, como o touro.
Tu, como Ares, ó Euius!
Devorador inocente de carne tão crua!
Trienal, arranjado com uvas e ramos de oliveira,
Tu, Eubolius, tão iluminado.
Semideus imortal, nascido da cópula
De Zeus e de Perséfone, demasiado negra para se poder mencionar!
Ouve, ó abençoado, a minha voz, e sopra
Sobre mim com um coração imaculado e bondoso,
Tu e as mulheres que tratam de ti, vestidas a rigor.
sexta-feira, outubro 10, 2008
quarta-feira, outubro 01, 2008
O Azul de Mallarmé
Do azul eterno a serena ironia
Esmaga, indolentemente bela como as flores,
O poeta impotente que maldiz o seu génio
Através de um deserto estéril de Dores.
Fugindo, de olhos fechados, sinto-o a olhar
Com a intensidade de um remorso aterrador,
Para a minha alma vazia. Para onde fugir? E que noite perturbada
Lançar, farrapos, lançar sobre este desprezo aflitivo?
Nevoeiros, subi! Deixai cair as vossas cinzas monótonas
Com longos trapos da bruma nos céus
Que afogará o pântano lívido dos outonos
E erguei um grande tecto silencioso!
E tu, sai dos charcos letianos e recolhe
Ao regressares, a jarra e os pálidos juncos,
Caro Tédio, para tapar com uma mão nunca cansada
Os grandes buracos azuis que os pássaros fazem maldosamente.
E mais! que sem cessar as tristes chaminés
Fumeguem, e que de fuligem uma errante prisão
Extinga, no horror das suas negras linhas,
O sol morrendo amarelado no horizonte!
-O Céu está morto. -Em tua direcção, refugio-me! dá, ó matéria,
O esquecimento do Ideal cruel e do Pecado
A este mártir que vem partilhar a liteira
Onde o gado dos homens está deitado feliz,
Porque eu quero aí, uma vez que o meu cérebro enfim, esvaziado
Como um maço de palha caído ao pé de uma parede,
Já não tem a arte de dourar a ideia soluçante,
Lugubremente bocejar num passamento obscuro...
Em vão! O Azul triunfa, e ouço-o a cantar
Nos sinos. Minh'alma, ele faz-se voz para mais
Nos meter medo com a sua vitória maldosa
E do metal vivo sai em angelus azuis!
Ele rola pela bruma antiga e atravessa
A tua agonia nativa tal como um gládio seguro
Para onde fugir nesta revolta inútil e perversa?
Estou assombrado. O Azul! O Azul! O Azul! O Azul!
Esmaga, indolentemente bela como as flores,
O poeta impotente que maldiz o seu génio
Através de um deserto estéril de Dores.
Fugindo, de olhos fechados, sinto-o a olhar
Com a intensidade de um remorso aterrador,
Para a minha alma vazia. Para onde fugir? E que noite perturbada
Lançar, farrapos, lançar sobre este desprezo aflitivo?
Nevoeiros, subi! Deixai cair as vossas cinzas monótonas
Com longos trapos da bruma nos céus
Que afogará o pântano lívido dos outonos
E erguei um grande tecto silencioso!
E tu, sai dos charcos letianos e recolhe
Ao regressares, a jarra e os pálidos juncos,
Caro Tédio, para tapar com uma mão nunca cansada
Os grandes buracos azuis que os pássaros fazem maldosamente.
E mais! que sem cessar as tristes chaminés
Fumeguem, e que de fuligem uma errante prisão
Extinga, no horror das suas negras linhas,
O sol morrendo amarelado no horizonte!
-O Céu está morto. -Em tua direcção, refugio-me! dá, ó matéria,
O esquecimento do Ideal cruel e do Pecado
A este mártir que vem partilhar a liteira
Onde o gado dos homens está deitado feliz,
Porque eu quero aí, uma vez que o meu cérebro enfim, esvaziado
Como um maço de palha caído ao pé de uma parede,
Já não tem a arte de dourar a ideia soluçante,
Lugubremente bocejar num passamento obscuro...
Em vão! O Azul triunfa, e ouço-o a cantar
Nos sinos. Minh'alma, ele faz-se voz para mais
Nos meter medo com a sua vitória maldosa
E do metal vivo sai em angelus azuis!
Ele rola pela bruma antiga e atravessa
A tua agonia nativa tal como um gládio seguro
Para onde fugir nesta revolta inútil e perversa?
Estou assombrado. O Azul! O Azul! O Azul! O Azul!
Stéphane Mallarmé
quinta-feira, setembro 25, 2008
Poema do silêncio
«Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.
Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.
Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!
Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...
O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.
Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!
Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.
Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!
Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.
Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!
Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.
Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...
Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...
Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.»
José Régio
segunda-feira, setembro 08, 2008
Sim, entra
Dentro do bosque, com os pés nus sobre a caruma fria
Vejo o frio à minha frente a cada exalação ansiosa.
A casca molhada das árvores gera uma atmosfera húmida
Que me enregela os ossos e faz estremecer a bexiga.
E há uma imanência, um absoluto, que apenas se revela
Quando já não posso voltar para trás pelo caminho por onde vim.
Vejo o frio à minha frente a cada exalação ansiosa.
A casca molhada das árvores gera uma atmosfera húmida
Que me enregela os ossos e faz estremecer a bexiga.
E há uma imanência, um absoluto, que apenas se revela
Quando já não posso voltar para trás pelo caminho por onde vim.
segunda-feira, julho 14, 2008
sábado, julho 05, 2008
Axolotl
Para os astecas eram monstros aquáticos, porque eram diferentes. Vivem sempre dentro de água, ao contrário das outras salamandras que na idade adulta perdem as guelras e passam a viver em terra. Têm uma capacidade única de regenerar qualquer parte do seu corpo que seja cortada, por um número indefinido de vezes. E às vezes são rosados.
O seu nome remete para o grande irmão gémeo de Quetzalcoatl, a serpente emplumada, chamado Xolotl. Xolotl era o psicopompo dos astecas, o que acompanhava as almas dos mortos na sua viagem através do país da morte.
Os axolotl vistos ao vivo são impressionantes, apetece tê-los em casa, estranhos e surreais, como pequenas entidades protectoras ou apenas criaturas fantásticas.
O seu nome remete para o grande irmão gémeo de Quetzalcoatl, a serpente emplumada, chamado Xolotl. Xolotl era o psicopompo dos astecas, o que acompanhava as almas dos mortos na sua viagem através do país da morte.
Os axolotl vistos ao vivo são impressionantes, apetece tê-los em casa, estranhos e surreais, como pequenas entidades protectoras ou apenas criaturas fantásticas.
sexta-feira, junho 06, 2008
De mão em mão
Tenras nove horas da noite, passo apressado, dirijo-me para o cinema. Encostado a uma parede está uma figura, parte da paisagem decerto, que parece querer algo.
Páro.
Tento voltar a ouvir na minha cabeça o que acabou de ser dito. Era algo como precisar de ajuda, ajudar a chegar à estrada para chamar um táxi.
Vejo-o. Apoiado em duas muletas, uma perna das calças traçada em frente da outra parecendo não albergar nada lá dentro e uma das mãos com um aspecto fraco e doentio, o homem deve ter uns cinquenta anos.
Esforço-me por compreender, concluo que o pobre velho quer chegar à estrada de alcatrão para poder, aí, chamar um táxi. Um táxi? Pelo cheiro não parece nada ter dinheiro para isso... Digo que não me importo nada de o ajudar.
Avançamos muito devagar, os transeuntes vão olhando, passo a passo. Como as crianças, nem sempre põe o pé a direito e isso faz com que o nosso percurso seja oscilante, como se deixássemos um rasto de serpente.
Chegamos à beira do passeio e tento perceber o que ele quer. Ajuda para ficar no alcatrão encostado a um dos carros? Está bem.
Passa um táxi e faço sinal, mas ia ocupado. Passam muitos carros, mas nenhum táxi. É uma zona movimentada, decerto passará um táxi rapidamente. Pergunto-lhe: -Fica bem aqui?
Espero mais um pouco, o homem já nem repara que estou ali - penso ou quero pensar. Despeço-me e vou-me embora, de peito apertado. É como se houvesse ali uma grande questão essencial qualquer e eu não tivesse percebido qual era.
Bem mais à frente vejo um táxi. Penso em mandá-lo parar e dar-lhe uns euros para ir apanhar o desgraçado. Depois sinto-me ridículo. Penso que o homem já deve estar no táxi, a essa hora, a caminho de uma casa onde um qualquer jantar e reduzido conforto o esperará.
Cinema.
Cinema.
Cinema.
Volto para o carro. Ao passar pelo sítio onde vira o homem, vejo um monte de cartão no chão. Olho com mais atenção e estremeço ao ver um par de muletas a sair do cartão. Refugiado dentro do cartão está o homem a dormir.
Os táxis não pararam? Seria apenas um delírio? Um desejo de que fosse verdade? Ou um pedido de ajuda que eu não compreendi? Alguém o há-de ter ajudado. Aquele cartão não estava ali antes. De mão em mão, sobrevivendo graças à boa-vontade de alguns desconhecidos, o homem vai atravessando os séculos.
Páro.
Tento voltar a ouvir na minha cabeça o que acabou de ser dito. Era algo como precisar de ajuda, ajudar a chegar à estrada para chamar um táxi.
Vejo-o. Apoiado em duas muletas, uma perna das calças traçada em frente da outra parecendo não albergar nada lá dentro e uma das mãos com um aspecto fraco e doentio, o homem deve ter uns cinquenta anos.
Esforço-me por compreender, concluo que o pobre velho quer chegar à estrada de alcatrão para poder, aí, chamar um táxi. Um táxi? Pelo cheiro não parece nada ter dinheiro para isso... Digo que não me importo nada de o ajudar.
Avançamos muito devagar, os transeuntes vão olhando, passo a passo. Como as crianças, nem sempre põe o pé a direito e isso faz com que o nosso percurso seja oscilante, como se deixássemos um rasto de serpente.
Chegamos à beira do passeio e tento perceber o que ele quer. Ajuda para ficar no alcatrão encostado a um dos carros? Está bem.
Passa um táxi e faço sinal, mas ia ocupado. Passam muitos carros, mas nenhum táxi. É uma zona movimentada, decerto passará um táxi rapidamente. Pergunto-lhe: -Fica bem aqui?
Espero mais um pouco, o homem já nem repara que estou ali - penso ou quero pensar. Despeço-me e vou-me embora, de peito apertado. É como se houvesse ali uma grande questão essencial qualquer e eu não tivesse percebido qual era.
Bem mais à frente vejo um táxi. Penso em mandá-lo parar e dar-lhe uns euros para ir apanhar o desgraçado. Depois sinto-me ridículo. Penso que o homem já deve estar no táxi, a essa hora, a caminho de uma casa onde um qualquer jantar e reduzido conforto o esperará.
Cinema.
Cinema.
Cinema.
Volto para o carro. Ao passar pelo sítio onde vira o homem, vejo um monte de cartão no chão. Olho com mais atenção e estremeço ao ver um par de muletas a sair do cartão. Refugiado dentro do cartão está o homem a dormir.
Os táxis não pararam? Seria apenas um delírio? Um desejo de que fosse verdade? Ou um pedido de ajuda que eu não compreendi? Alguém o há-de ter ajudado. Aquele cartão não estava ali antes. De mão em mão, sobrevivendo graças à boa-vontade de alguns desconhecidos, o homem vai atravessando os séculos.
quarta-feira, maio 28, 2008
Sutra do Coração
«No vazio, não há forma, não há emoção, não há pensamento nem consciência;
não há olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo ou mente;
não há sentidos, nem objectos de forma corpórea, som, cheiro, sabor ou coisas tácteis;
nada que se veja, e daí em diante, até não haver cognição mental
nem ignorância, nem extinção da ignorância, até não haver envelhecimento e morte
nem extinção do envelhecimento e morte
não há sofrimento, origem, cessação ou caminho
não há conhecimento superior, atingir a libertação ou não atingir a libertação
assim, por causa desse não atingir, o bodhisattva
foi, foi, foi completamente, foi completa e absolutamente para a luz.»
Adaptação do Prajnaparamita Hridaya Sutra
não há olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo ou mente;
não há sentidos, nem objectos de forma corpórea, som, cheiro, sabor ou coisas tácteis;
nada que se veja, e daí em diante, até não haver cognição mental
nem ignorância, nem extinção da ignorância, até não haver envelhecimento e morte
nem extinção do envelhecimento e morte
não há sofrimento, origem, cessação ou caminho
não há conhecimento superior, atingir a libertação ou não atingir a libertação
assim, por causa desse não atingir, o bodhisattva
foi, foi, foi completamente, foi completa e absolutamente para a luz.»
Adaptação do Prajnaparamita Hridaya Sutra
Tetralema
Ou isto é ilusão
Ou isto não é ilusão
Ou isto é ilusão e não é ilusão em simultâneo
Ou nem isto é ilusão nem deixa de ser ilusão em simultâneo
Ou isto não é ilusão
Ou isto é ilusão e não é ilusão em simultâneo
Ou nem isto é ilusão nem deixa de ser ilusão em simultâneo
quarta-feira, abril 30, 2008
A esmeralda de Satanael
Satanael, de Satan "o acusador" e El "Deus", é o acusador ou o opositor de Deus. A lenda diz que a criatura usava uma coroa que tinha uma bela esmeralda ao centro. Um dia, ao ver que a esmeralda caía dos céus, precipitou-se atrás dela para nunca mais voltar.
A esmeralda, caída na terra, teria dado origem a um cálice. Quem bebesse desse cálice ficaria de imediato iluminado pela sabedoria divina.
Assim, a esmeralda é o símbolo da Gnose, isto é, da sabedoria divina que nos aproximará de Deus, que foi o que Satanael perdeu. O cálice que dá a sabedoria divina é conhecido como Graal.
A ligação do cálice a Cristo é imediata: também Cristo dava a sabedoria divina a quem bebesse as suas palavras. O acto simbólico de José de Arimateia lhe dar a beber a ele, Filho de Deus, do cálice da sabedoria divina pouco antes da sua morte, é um acto de transferência. É como se esse último beijo de Cristo impregnasse o cálice de toda a sabedoria que o animava.
Não é de estranhar que Cristo seja chamado de lapis ou "pedra" nas encantações dos alquimistas, pois "visita o interior da terra e rectificando-te encontrarás a pedra oculta" (Visita Interiorem Terrae Rectificandoque Invenies Ocultum Lapidem. Isto significa que temos procurar nas profundezas, por entre o conhecimento grosseiro da matéria, ao mesmo tempo que nos vamos purificando e melhorando, para que possamos encontrar a pedra oculta, Cristo, a sabedoria divina, o amor do Pai ou a Luz que perdemos na hipóstase de Sophia... Tal como os Titãs ou os Anjos Caídos...
Procurar a esmeralda de Satanael não é fazer um pacto com o diabo, é procurar aquilo que a lenda diz que ele perdeu: o caminho.
A esmeralda, caída na terra, teria dado origem a um cálice. Quem bebesse desse cálice ficaria de imediato iluminado pela sabedoria divina.
Assim, a esmeralda é o símbolo da Gnose, isto é, da sabedoria divina que nos aproximará de Deus, que foi o que Satanael perdeu. O cálice que dá a sabedoria divina é conhecido como Graal.
A ligação do cálice a Cristo é imediata: também Cristo dava a sabedoria divina a quem bebesse as suas palavras. O acto simbólico de José de Arimateia lhe dar a beber a ele, Filho de Deus, do cálice da sabedoria divina pouco antes da sua morte, é um acto de transferência. É como se esse último beijo de Cristo impregnasse o cálice de toda a sabedoria que o animava.
Não é de estranhar que Cristo seja chamado de lapis ou "pedra" nas encantações dos alquimistas, pois "visita o interior da terra e rectificando-te encontrarás a pedra oculta" (Visita Interiorem Terrae Rectificandoque Invenies Ocultum Lapidem. Isto significa que temos procurar nas profundezas, por entre o conhecimento grosseiro da matéria, ao mesmo tempo que nos vamos purificando e melhorando, para que possamos encontrar a pedra oculta, Cristo, a sabedoria divina, o amor do Pai ou a Luz que perdemos na hipóstase de Sophia... Tal como os Titãs ou os Anjos Caídos...
Procurar a esmeralda de Satanael não é fazer um pacto com o diabo, é procurar aquilo que a lenda diz que ele perdeu: o caminho.
sábado, março 22, 2008
Instinto animal
O medo de ver assim, tão de perto, um leão a rugir, deu lugar à observação de que o leão não me estava a ameaçar. Na realidade, tinha um espinho cravado numa das patas da frente, que lambia com um ar furioso e sofrido.
Conhecendo o cliché, pensei de imediato nas vantagens que haveria em retirar esse espinho e ficar com um amigo leão. No entanto, não fazia a menor tenção de me aproximar daquela fera!
Resignado, o leão soltou um lamento rugido que me comoveu. Pobre criatura! Tão poderoso que era e não conseguia livrar-se de um espinho oportunista.
Cheio de compaixão, aproximei-me muito devagar. O leão pareceu perceber a minha intenção e nem se mexeu, nem sequer olhou para mim. Visto de perto, o espinho estava cravado entre duas garras do leão. Num gesto rápido e decisivo, arranquei-o com força. O leão soltou um rugido que fez estremecer o chão e me deixou quase surdo.
Caí para trás e pensei: que fui fazer? O leão aproximou-se lentamente de mim, com um ar desinteressado. Levantou a outra pata e empurrou-me um pouco. Quando o vi a abrir a bocarra pensei: não o posso levar a mal, afinal de contas é esta a sua natureza...
Ao perder a consciência vi nos olhos da fera o olhar sincero do instinto animal.
Conhecendo o cliché, pensei de imediato nas vantagens que haveria em retirar esse espinho e ficar com um amigo leão. No entanto, não fazia a menor tenção de me aproximar daquela fera!
Resignado, o leão soltou um lamento rugido que me comoveu. Pobre criatura! Tão poderoso que era e não conseguia livrar-se de um espinho oportunista.
Cheio de compaixão, aproximei-me muito devagar. O leão pareceu perceber a minha intenção e nem se mexeu, nem sequer olhou para mim. Visto de perto, o espinho estava cravado entre duas garras do leão. Num gesto rápido e decisivo, arranquei-o com força. O leão soltou um rugido que fez estremecer o chão e me deixou quase surdo.
Caí para trás e pensei: que fui fazer? O leão aproximou-se lentamente de mim, com um ar desinteressado. Levantou a outra pata e empurrou-me um pouco. Quando o vi a abrir a bocarra pensei: não o posso levar a mal, afinal de contas é esta a sua natureza...
Ao perder a consciência vi nos olhos da fera o olhar sincero do instinto animal.
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